Reencontrei há dias uma amiga dos tempos da juventude, que não via há mais de uma década. Como é normal nestas ocasiões, passámos aqueles momentos a recordar e a partilhar memórias e histórias dos nossos melhores anos.

Estávamos no começo do século e aqueles foram tempos dourados do punk-rock desta Outra Banda. Foram os anos de ouro de um “movimento” intitulado Margem Sul Hardcore, de que ambos fizemos parte.

A esta distância, posso afirmar que a música de que gostávamos não era particularmente boa. Tratava-se de punk-hardcore, o de origem nova-iorquina, um género de execução não tão complexa quanto o metal, que não é tão reivindicativo quanto o punk. De certa forma, estávamos ali porque queríamos, e conseguimos, pertencer a algo. Éramos poucos, algumas centenas, mas fizemos um movimento, um estilo, de uma contracultura. Vestíamos roupas largas, andávamos de mochila às costas, uns grafitavam paredes, outros tocavam em bandas, quase todos bebiam, outros eram abstémios. Enfim, tal como na Londres do punk, no Bronx do hip-hop, na Chicago do jazz, na Seattle do grunge.

Perdi a conta ao número de concertos a que assisti de bandas como Last Hope, Deadly Mind, Act of Anger, 69 Balls, Naked Soul, bandas de música pesada virtualmente desconhecidas fora do eixo Almada-Barreiro-Seixal. Eu gostava particularmente do estilo de hardcore nova-iorquino, herdeiro do punk, sem solos de guitarra, com versos rápidos, pesados e temas curtos, com os expoentes máximos Agnostic Front, Cro-Mags, Madball, Biohazard ou Sick of it All.

Vinte anos depois, à luz do processo de gentrificação em curso em que vivemos e das mudanças sociais que ocorreram em Portugal é fácil concluir que a morte daquele movimento, mais do que anunciada, foi uma consequência. Da evolução da Margem Sul do Tejo. Mas a festa foi bonita.